Conflito em Icapuí
''Guerra da Lagosta'' faz mais duas vítimas
Pescadores
e moradores de Icapuí, no Litoral Leste, fazem manifestação após dois
pescadores terem sido baleados em alto mar. O mesmo ocorreu, no
município, ha pouco mais de dois meses
01/07/2010 02:00
Atualizada às: 30/06/2010 21:19
Pescadores
baleados, estradas interditadas, veículo incendiado, manifestações. Era
essa a situação de Icapuí durante todo o dia de ontem. E tudo por conta
da rivalidade dos pescadores de praias do município que fica no Litoral
Leste do Estado, a 200 quilômetros de Fortaleza. Os conflitos começaram
na noite da última terça-feira, 29, data dedicada aos pescadores. Pai e
filho foram baleados, um atentado bem parecido ao que ocorreu há pouco
mais de um mês no litoral do município.
Francisco de
Assis de Sousa Filho, 54, foi baleado no abdômen e o filho, Antônio
Carlos de Oliveira Sousa, foi atingido no braço por estilhaços de
vidro. Em maio passado, Expedito Amâncio da Silva, 46, foi baleado na
coxa e o filho Alcivan da Rocha Silva foi atingido de raspão, também na
coxa. Revoltados com o atentado aos pescadores, os moradores da cidade
realizaram manifestações na entrada do Centro da cidade.
Um
carro que chegava à sede de Icapuí transportando passageiros da praia
de Redonda, foi queimado e, durante todo o dia, o acesso da praia para
Icapuí e entre as praias de Barrinha e Mutamba foram interditados. A
delegada de Icapuí, Juliana Carvalho, temendo novos atentados pediu
reforço policial nas delegacias de Aracati e Russas. Os comerciantes
fecharam seus estabelecimentos.
Na tarde de ontem, a delegada
esteve na praia da Redonda onde se reuniu com lideranças da associação
de moradores e da colônia de pescadores. Depois negociou a abertura das
estradas de acesso à cidade. “O medo das pessoas era de que os
pescadores da Redonda fossem tentar desobstruir os acesso, mas isso não
iria ocorrer. O que queremos é que acabe a pesca predatória da
lagosta”, disse Raimundo Bonfim Braga, o Kamundo, ex-superintendente do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama), que é ligado à comunidade da praia da Redonda.
Os
pescadores Francisco de Assis Sousa e Antônio Carlos Sousa, que moram
na praia da Redonda, retornavam da pescaria quando foram atacados,
segundo informações de moradores, por homens encapuzados e armados.
Ferido, o pescador Francisco de Assis foi trazido para o Instituto
Doutor José Frota (IFC) em Fortaleza, onde está internado e, segundo a
assessoria de imprensa do órgão, está fora de risco de vida. Antônio
Carlos foi atendido no Hospital Municipal de Icapuí e passa bem.
O
barco em que eles estavam foi tomado pelos homens os atacaram. Depois
eles foram deixados na costa do litoral de Icapuí. O mesmo tinha
ocorrido com os dois pescadores que tinham sido vítimas em maio
passado. O conflito entre os pescadores está sendo investigado pela
Polícia Federal, que está fazendo diligências para identificar os
responsáveis pelo crime.
E-Mais
O CONFLITO
O
conflito entre os pescadores das praias de Icapuí se tornou conhecido
como “Guerra da Lagosta”. Os pescadores artesanais defendem o
cumprimento da lei que proíbe o uso de equipamentos de mergulho e
armadilhas impróprias na captura da lagosta.
Os
pescadores alternativos se defendem alegando que a responsabilidade da
fiscalização da pesca é dos órgãos federais constituídos para essa
finalidade .
Os pescadores artesanais da Praia da
Redonda iniciaram a fiscalização do litoral por conta própria,
apreendendo barcos que utilizam técnicas ilegais na captura da lagosta
como o uso de compressores. Só este ano, quatro barcos foram
apreendidos pelos pescadores. Depois de render a tripulação, o
procedimento é deixá-los na beira de alguma praia próxima à comunidade
onde vivem.
Os conflitos em Icapuí são antigos e se
acirraram no ano passado. Em setembro de 2009, um pescador foi atingido
por um tiro nas costas dentro do mar. Depois disso, estradas municipais
foram interditadas, aulas foram suspensas e houve protesto na câmara
municipal.